Concreto

Sérgio, distraído, tropeçou. Tava de tênis. Se tivesse de chinelo ou descalço, poderia ter machucado o pé. Passado o susto, chegou no palácio. Deu bom dia ao mordomo, entrou no quarto e dormiu. Não reparou no buraco na parede. De tamanho suficiente pra passagem de animais pequenos, oferecia perigo. Só de noite, depois de quase cortar o dedo com a faca de pão, notou a presença do vão no concreto. Botou a cabeça pra ver do outro lado. Como a cavidade era num canto e o salão era grande, escutou a conversa sem ser percebido. Falavam dele. Diziam que, por mais que quisessem, era impossível gostar. Listaram defeitos. Trouxe o crânio de volta pro aposento e tapou o furo. Triste pela descoberta, resolveu ir embora. Agiu como se não soubesse e anunciou a decisão. Ouviu, incomodado, pedidos pra que ficasse.

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