Calhas
Aos poucos, caem as calhas do teto da casinha que fica ao lado do morro mais íngreme da região. Falo de calhas sagradas. Toda a água que escorre pelos dutos é impura, apesar de completamente livre de macro e microorganismos. Não potável, como sempre foi, a combinação entre uma molécula de oxigênio e duas de hidrogênio possui a companhia de ingredientes capazes de impedir que os pobres consumidores possam defecar ou urinar novamente. É estranho, mas a maldição não afasta os curiosos do outro lado do monte, que levam três dias e duas noites para atravessar a elevação do terreno. Como resultado do consumo irracional, surge um povoado composto por cidadãos de bem, embora imundos por dentro. O paradoxo jamais foi alvo de estudos acadêmicos ou alternativos. Sem saída e conseqüentemente propensos a acreditar em qualquer coisa, os contaminados sonham com o dia em que as calhas finalmente toquem o chão.
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Calhas sinistras...sempre se tem a quem culpar...;-)
ResponderExcluirMuito bom, de verdade! Gostei bastante da imagem do "povoado composto por cidadãos de bem, embora imundos por dentro".
ResponderExcluirEsse tem que entrar na antologia.
Abração,
Gutoooo.
Concordo que essa frase também me chamou bastante a atenção!! Mais um texto excelente e envolvente!!rs..Parabéns!
ResponderExcluirSe tu dá esse pro Lars Von Trier ele faz miséria...
ResponderExcluirRenato, seus textos têm cores nítidas e são audiovisuais e cinéticos.
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