Rumo

Estava achando o livro tão chato que resolveu ler rápido. Passava por cima de um personagem ou outro, ignorava as características de determinado vilarejo e andava sem rumo em direção ao próximo capítulo. Mantinha respeito à sinalização ortográfica e só. Apesar de não captar a intenção do autor com o conjunto de palavras que ficavam pra trás, sentia prazer em passear descompromissadamente pelas páginas. Se bem que, verdade seja dita, até se interessava um pouco pelas linhas referentes à conturbada relação entre os protagonistas. Ele, mais novo e obcecado, não sabia como reagir ao mau humor gratuito esbanjado por ela nos momentos de lazer que não envolviam sexo. O pior era resgatar o fio da meada depois de dias longe da narrativa. Várias pessoas e lugares eram simplesmente citados, ao invés de reapresentados ao impaciente leitor acostumado a desprezar termos desconhecidos e notas de rodapé. Quando lia em casa, deitava de lado com o volume apoiado na cama. Trocava de posição freqüentemente. Dormiu bem, mas logo acordou com a cara apontada para o algoz de capa branca. Chega. Sentou direito e reiniciou a atividade com os olhos arregalados. Como não tem coragem de pular os parágrafos, acelera o processo do jeito que dá.

7 comentários:

  1. A coragem de pular os parágrafos é que é a parada... Já percebo uma obra em evolução por aqui, hein, jobi? Muito maneiro. Bjs!

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  2. Olha o "CHÊÊGA" aí!

    Excelente bróder, mais um. Parabéns!

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  3. Por isso que se diz para não julgar o livro pela capa...;-)
    Abraiss

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  4. Acelerar o processo da leitura demonstra um certo interesse pela trama. Pior seria abandonar a obra e transformá-la em calço para mesa torta! Enfrentar seus próprios demônios é uma maneira, sofrida, de evoluir.

    Renato, você está cada vez melhor. Show!

    Abração,
    Gutoooo.

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